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Safra de milho vem recorde, mas sem muito espaço para quedas nos preços

Safra de milho vem recorde, mas sem muito espaço para quedas nos preços

O Brasil está prestes a colher uma safra recorde de milho. O ritmo do consumo interno e o das exportações nos anos recentes, porém, não dão margens a sobras. As demandas interna e externa vão manter os preços do cereal ajustados.

O desenvolvimento da cadeia nacional de proteínas, o aumento da produção de etanol de milho e a abertura maior do mercado externo têm absorvido um volume cada vez maior do produto.

Com isso, os preços do cereal e os dos derivados não têm muito espaço para quedas. A saca de milho, mesmo com a safra em andamento, está sendo negociada próxima de R$ 82 desde o final de junho, segundo o Cepea.

Para esta safra 2021/22, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma produção recorde de 115 milhões de toneladas, mas o consumo interno também sobe para um patamar recorde de 77 milhões, 7% acima do volume da safra anterior.

As exportações, após o baque do ano passado, devido a seca e geadas, voltam para um volume próximo ao de 2020. As estimativas vão de 37,5 milhões a 40 milhões de toneladas.

A produção de carnes no Brasil, um setor que utiliza muito milho na ração, teve evolução em todos os segmentos no segundo trimestre deste ano, em relação a igual período anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Embora a demanda interna, devido à baixa renda dos consumidores, não favoreça a venda de carnes no mercado doméstico, o externo sustenta a produção.

Nos meses de abril, maio e junho, o Brasil aumentou em 2,3% a produção de carne bovina; em 6% a suína; e em 1% a de frango. Boa parte dessa produção vai para o mercado externo.

O mercado de milho deverá continuar aquecido também porque dois dos principais exportadores mundiais reduzirão a presença no mercado externo, abrindo ainda mais espaço para o produto brasileiro.

A Ucrânia, que colocou 30 milhões de toneladas no exterior na safra 2018/19, deverá exportar apenas 12,5 milhões em 2022/23.

Apesar de baixo, esse volume é maior do que os 9,5 milhões estimados anteriormente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Os americanos, com produtividade menor na safra deste ano, devido ao clima seco e quente, também têm previsão de exportar menos. Serão 61,5 milhões de toneladas, bem abaixo dos 68,3 milhões de 2020/21.

A União Europeia, afetada por seca, colocará apenas 2,7 milhões de toneladas no mercado externo nesta safra. Na anterior, foram 5,8 milhões.

Nos cálculos do USDA, que considera a safra comercial do início de outubro de um ano ao final de setembro do outro, Brasil e Argentina vão colocar 88 milhões de toneladas de milho no mercado externo. O volume brasileiro seria de 46,5 milhões.

A menor presença chinesa no mercado deverá aliviar as pressões. Após importar 23 milhões de toneladas nesta safra, os chineses vão comprar 18 milhões em 2022/23. Mesmo assim, o poder de interferência no mercado é grande. Há três safras, importavam apenas 4 milhões de toneladas por ano.

Os americanos já fizeram uma avaliação da safra 2022/23 de milho do Brasil e preveem 126 milhões de toneladas. Para a Argentina, esperam 55 milhões.

A Ucrânia, que antes da guerra chegou a produzir 42 milhões do cereal, colherá apenas 30 milhões. Os Estados Unidos, líderes na produção e na exportação mundiais têm recuo na produção para 365 milhões.

Na avaliação do USDA, a produção mundial de milho cai para 1,18 bilhão de toneladas. Safra menor e estoques finais com recuo de 2% no período farão com que o mundo tenha milho suficiente para 94 dias no final de 2022/23. Qualquer problema climático em um dos grandes produtores trará sérios problemas para o abastecimento mundial.

Com o aumento da safra brasileira, o Valor Bruto da Produção (VBP) do milho supera o da bovinocultura neste ano, informou o Ministério da Agricultura, nesta segunda-feira, 15.

O giro de dinheiro com o cereal dentro da porteira sobe para R$ 158 bilhões, 17% acima do de 2021. Já as receitas com as vendas de bovinos nas fazendas ficam em R$ 152 bilhões, um recuo de 11% sobre 2021.